1 - O SÉCULO XXI ANUNCIA UMA CRISE DE PARADIGMAS
Nas últimas duas décadas do
século XX pudemos ver grandes mudanças, tanto no campo socioeconômico e
político, quanto no campo da cultura, da ciência e da tecnologia. E graças a essas
transformações se tornou possível o surgimento da era da informação. É um
momento novo e rico de informações e possibilidades. No início do século XX, H.
G. Wells dizia que “a história da humanidade é cada vez mais a disputa de uma
corrida entre a educação e a catástrofe”. A julgar pelas duas grandes guerras
que marcaram a “história da humanidade”, na primeira metade do século XX, a
catástrofe venceu. No início dos anos 50 dizia-se que só havia uma alternativa:
“socialismo ou barbárie” (Cornelius Castoriadis). E chegamos ao final do século
com a derrocada do socialismo burocrático de tipo soviético e do
enfraquecimento da ética socialista. E mais: pela primeira vez na história da
humanidade, não por efeito de armas nucleares, mas pelo descontrole da produção
industrial, podemos destruir toda a vida do planeta. Mais do que a
solidariedade, estamos vendo crescer a competitividade. Vencerá a barbárie, de
novo? Qual o papel da educação nesse novo contexto político? Qual é o papel da
educação na era da informação? Que perspectivas podemos apontar para a educação
nesse início do Terceiro Milênio? Para onde vamos? O termo “Perspectiva”
demonstra o mesmo conceito de possibilidade, mas de um ponto de vista mais
genérico, Podem aparecer como perspectivas, coisas que não tem relação
suficiente para serem possibilidades de fato. Portanto, “perspectiva” significa
principalmente enfoque, quando falamos, por exemplo, em perspectiva política, e
possibilidade, crença em acontecimentos considerados como prováveis e bons. Falar
em perspectivas é falar de esperança no futuro. Muitos educadores ficam
perplexos diante de diversas rápidas mudanças na sociedade, desde o campo
tecnológico ao econômico. Se perguntam sobre o futuro de sua profissão, alguns
com medo de perde-la por não conseguir acompanhar essas mudanças. Em cada um
destes diversos cenários para a educação, para forma-lo é sempre preciso
“distanciamento. É sempre um ponto de vista indicando uma certa direção ou,
pelo menos, um horizonte em direção ao qual estamos caminhando ou podemos
caminhar.
2 - O TRADICIONAL E O NOVO
A educação tradicional, apesar do
seu declínio, existe até hoje. A educação nova, que se desenvolveu nesses
últimos dois séculos, surgiu de forma clara com a obra de Rousseau, e rendeu
numerosas conquistas, principalmente no campo das ciências da educação e das
metodologias de ensino. Como exemplo na pedagogia, costumamos destacar o
conceito de “aprender fazendo” de J. Dewey e as técnicas Freinet. E é através
da educação tradicional e educação nova que será construída a educação do
futuro.
Ambas as educações que possuíam
como enfoque do processo de desenvolvimento o individual, sofrem no séc. XX um
deslocamento, do individual passa para o social, para o político e para o
ideológico. E é apartir do séc. XX que essa passa a ser social e permanente. É
claro que temos muitos desníveis entre regiões e países, mas existem idéias
universalmente difundidas, entre elas, a de que não há idade para se educar, de
que a educação se estende pela vida toda e que ela não é neutra.
3 - EDUCAÇÃO INTERNACIONALIZADA
Na metade do século XX foi
imaginada a educação internacionalizada, a qual foi confiada a Unesco. Países
mais desenvolvidos universalizaram o ensino fundamental e suprimiram o
analfabetismo. Desde então os sistemas nacionais de educação possibilitaram
vários planos de educação, que diminuíram os custos e aumentaram os benefícios.
Como resultado, os sistemas educacionais do mundo contam com uma estrutura
básica muito parecida, que foi impulsionada pela globalização como parâmetro
curricular comum.
4 - NOVAS TECNOLOGIAS
Como consequências da evolução
das novas tecnologias, as quais foram centradas na comunicação de massa, a
aprendizagem a distância se baseia na internet, sendo a grande novidade
educacional do milênio. A educação opera com um linguagem escrita, e a nossa
cultura vive impregnada por uma nova linguagem, sendo ela, a da mídia, tal como
a da televisão e a da internet. A cultura do papel representa talvez o maior
obstáculo ao uso intenso da internet, estando em evidência a educação a
distância com base na mesma. Por isso, os jovens que ainda não tornaram
totalmente internacional a cultura do papel, adaptam-se com mais facilidade que
os adultos ao uso do computador. Eles já nascem com essa nova cultura, a
cultura digital.
5 - PARADIGMAS HOLONÔMICOS:
Esses paradigmas sustentam um princípio unificador do saber, do conhecimento em torno do ser humano, valorizando o seu cotidiano, o seu vivido, o pessoal, a singularidade, o entorno, o acaso e outras categorias. Para os holistas (defensores dos paradigmas holonômicos), os paradigmas clássicos são marcados pela ideologia e apenas lidariam com categorias redutoras da totalidade. Já os holonômicos visam a restauração da totalidade do sujeito, com a valorização da iniciativa, sua criatividade, valorizando a complementaridade, convergência e complexidade. Os paradigmas holonômicos tem como intensão manter sem superar, todos os elementos da complexidade da vida e do real. Há uma certa divergência entre pontos destes novos paradigmas, mas, em conjunto, indicam uma tendência única na perspectiva educacional. Os holistas buscam uma direção do futuro, chamada por eles de pedagogia da unidade. Para eles, a imaginação está no poder. São muito mais sociáveis ao que é imaginário, ligado à criatividade, do que ao real e concreto.
5 - PARADIGMAS HOLONÔMICOS:
Esses paradigmas sustentam um princípio unificador do saber, do conhecimento em torno do ser humano, valorizando o seu cotidiano, o seu vivido, o pessoal, a singularidade, o entorno, o acaso e outras categorias. Para os holistas (defensores dos paradigmas holonômicos), os paradigmas clássicos são marcados pela ideologia e apenas lidariam com categorias redutoras da totalidade. Já os holonômicos visam a restauração da totalidade do sujeito, com a valorização da iniciativa, sua criatividade, valorizando a complementaridade, convergência e complexidade. Os paradigmas holonômicos tem como intensão manter sem superar, todos os elementos da complexidade da vida e do real. Há uma certa divergência entre pontos destes novos paradigmas, mas, em conjunto, indicam uma tendência única na perspectiva educacional. Os holistas buscam uma direção do futuro, chamada por eles de pedagogia da unidade. Para eles, a imaginação está no poder. São muito mais sociáveis ao que é imaginário, ligado à criatividade, do que ao real e concreto.
6 - [HOLISTAS SUSTENTAM QUE IMAGINÁRIO E UTOPIA SÃO OS GRANDES FATORES
INSTITUINTES DA SOCIEDADE]
A complexidade não deve ser entendida como um padrão, mas como um o real em
processamento, em constante transformação, em um ciclo de criação e recriação,
construção e reconstrução. A coexistência de dois princípios é capaz de
provocar desequilíbrio, dúvidas e ansiedades. Nesse sentido, deve-se entender a
transdisciplinaridade como um desdobramento, um aprofundamento, da própria
noção de dialética. Entendida um método, as disciplinas que colaboram
entre elas em um projeto com um conhecimento em comum poderá dar uma
contribuição ao estudo chamado de Pedagogia da Terra, ou ecopedagogia, que
incorpora a atitude, e a convivência transdisciplinar. “A verdade é o todo”,
dizia Hegel. Por isso, acredita-se que um dos grandes méritos da
transdisciplinaridade seja recuperar e renovar a categoria filosófica de
totalidade.
7 - EDUCAÇÃO POPULAR
O uso da educação popular, nos dias atuais, vem se
tornando uma característica comum de educadores ao redor do mundo. Um modelo de
educação que passou a ser organizado e conscientizado desde os anos 60, quando
Paulo Freire tratava sobre o assunto em seus trabalhos. Apesar de ser uma
característica comum de vários educadores, essa educação popular vem tomando
outras vertentes, tais como: educação pública popular, educação popular
comunitária e educação ambiental ou sustentável. A educação popular também teve
um importante papel na luta contra as ditaduras latino-americanas, apresentando
projetos alternativos. Mesmo enfrentando várias fronteiras, a educação popular
é hoje o que rege vários educadores pelo mundo, como já dito.
A prática da educação popular é a
busca pela solidariedade e reciprocidade, buscando, antes de tudo, pensar mais
no próximo, através de serviços comunitários e voluntários.
Talvez a educação popular seja o
maior legado da América Latina à pedagogia crítica universal, oferecendo
grandes alternativas ao sistema de escolarização pública, por exemplo.
8 - DUPLA ENCRUZILHADA
O objetivo do Instituto Paulo Freire é encontrar um
caminho para educação básica a nível mundial, resolvendo de uma vez por todas
esta encruzilhada a qual se encontra a educação básica, consolidando o “Projeto
Escola Cidadã” como resposta à crise de paradigmas. Resolver pelo simples motivo
do modelo da educação básica atual não conseguir suprir todas as necessidades
após essa universalização da educação. A Escola Cidadã é um projeto que visa
formar um verdadeiro cidadão para controlar o Mercado e o Estado com seu
projeto político-pedagógico, além do mais, o financiamento é democrático e
comunitário e o seu destino é público. O projeto tira como foco a transmissão
cultural que normalmente é empregada no ensino das escolas de educação básica e
traz como principal foco a transformação social, sendo a pedagogia de práxis um
grande exemplo de pedagogia transformadora em suas várias manifestações.
O
conhecimento tem ganhado grande valor nos dias atuais. Dados e informações são
compartilhados a todo instante ao redor do mundo. Informações são armazenadas,
graças à tecnologia, em grandes servidores e essas informações podem ser
acessadas de qualquer sala de aula ao redor do globo. Bem, se não já estamos na
“Revolução da Informação”, estamos beirando-a. Mesmo que ainda existam milhões
de pessoas sem acesso a essa informação globalizada em grande escala, a
informação e o conhecimento é que o rege a sociedade do século XXI.
Landislau
Dowbor, no livro “A Reprodução Social” cita o atraso em que muitos ainda se
encontram quanto à tecnologia e diz que precisamos fazer duas coisas ao mesmo
tempo: superar o atraso passado e criar condições para aproveitar o amanhã.
9
- [ESTÁ EM ANDAMENTO UMA REVOLUÇÃO DA INFORMAÇÃO COMPARÁVEL À REVOLUÇÃO
INDUSTRIAL]
Além da escola, lugares como o espaço domiciliar, a empresa
e o espaço social viraram lugares de aprendizagem. Já a sociedade civil está se
tornando espaço de difusão de conhecimentos. Nesses espaços têm se
democratizado as informações – menos influência e controle e mais liberdade. A
informação que, no século XXI, passa a ser um direito fundamental do cidadão,
em uma sociedade de redes e de movimentos. Quase tudo ligado à tecnologia.
O
conhecimento é o básico para a sobrevivência de todos. Por esse motivo ele deve
ser de livre e comum acesso, o que é o papel das instituições de ensino. Ainda
há esperanças de que a educação seja algo democrático, algo que todos possam
ter acesso. Porém com a falta de políticas públicas, têm surgido “indústrias do
conhecimento” que mercantilizam a educação, prejudicando a visão humanista e
rompendo com a ideia do livre e comum acesso à educação.
A
educação, e a educação a distância em particular é um bem coletivo e por isso
não deve ser controlado pelo mercado, em
interesses políticos. Quem deve decidir sobre a qualidade dos certificados deve
ser a sociedade num geral. Será que ainda existirá diplomas daqui alguns anos?
10 - RENOVAÇÃO CULTURAL
A escola não pode ficar a reboque
das inovações tecnológicas. Ela precisa ser um centro de inovação. A escola
deve orientar criticamente, sobretudo as crianças e jovens, na busca de uma
informação que os faça crescer e não embrutecer. Ela deve oferecer uma formação
geral na direção de uma educação integral.
A sociedade do conhecimento é uma
sociedade de múltiplas oportunidades de aprendizagem, as conseqüências para a
escola e para a educação em geral são enormes.
No contexto de impregnação do
conhecimento cabe à escola: amar o conhecimento como espaço de realização
humana, de alegria e de contentamento cultural; cabe-lhe selecionar e rever
criticamente a informação; formular hipóteses; ser criativa e inventiva; ser provocadora
de mensagens e não pura receptora; produzir, construir e reconstruir
conhecimento elaborado.
E mais: sob uma perspectiva
emancipadora da educação, a escola tem que fazer tudo isso em favor dos
excluídos, a tecnologia contribui pouco para a emancipação dos excluídos se não
for associada ao exercício da cidadania. A educação tornou-se estratégica para
o desenvolvimento e por isso será preciso transformá-la profundamente.
A escola do século XXI precisa
ser cidadã. As mudanças que vêm de dentro das escolas são mais duradouras, o
educador é um mediador do conhecimento diante do aluno que é o sujeito da sua
própria formação. A escola está desafiada a mudar a lógica da construção do
conhecimento, pois a aprendizagem agora ocupa toda a nossa vida. Devemos ser
felizes na escola, a felicidade nela não é uma questão de opção metodológica ou
ideológica, é uma obrigação essencial. O mundo de hoje é “favorável à
satisfação” e a escola também pode sê-lo.
Ser professor hoje é viver
intensamente o seu tempo, conviver; é ter consciência e sensibilidade. Não se
pode imaginar um futuro para a humanidade sem educadores. Os educadores, numa
visão emancipadora, não só transformam a informação em conhecimento e em
consciência crítica, mas também formam pessoas, são os verdadeiros “amantes da
sabedoria”, eles fazem fluir o saber porque constroem sentido para a vida das
pessoas e para a humanidade e buscam, juntos, um mundo mais justo, mas
produtivo e mais saudável para todos. Por isso eles são imprescindíveis.
11 - EDUCAÇÃO DO FUTURO
Diversas categorias como
“determinação”, “reprodução”, “mudança” e “trabalho” aparecem frequentemente na
literatura pedagógica contemporânea, sinalizando já um ponto de vista da
educação. Essas categorias tornaram-se clássicas na explicação do fenômeno da
educação. A dialética constitui-se, até hoje, no paradigma mais consistente
para analisar o fenômeno da educação. Elas não podem ser negadas ou desprezadas
como categorias “ultrapassadas”. Mas também podemos nos ocupar mais
especificamente de outras, ao pensar a educação do século XXI, categorias
nascidas ao mesmo tempo da prática da educação e da reflexão sobre ela. Eis
algumas delas, a título de exemplo.
1ª) CIDADANIA. A partir dessa categoria podemos discutir
particularmente o significado da concepção de escola cidadã e de suas
diferentes práticas. Educar para a cidadania ativa tornou-se hoje projeto e
programa de muitas escolas e de sistemas educacionais.
2ª) PLANETARIDADE. A Terra é um “novo paradigma” (Leonardo Boff).
Que implicações tem essa visão de mundo sobre a educação? O que seria uma
ecopedagogia (Francisco Gutiérrez) e uma ecoformação (Gaston Pineau)? O tema da
cidadania planetária pode ser discutido a partir dessa categoria.
3ª) SUSTENTABILIDADE. O
que seria uma cultura da sustentabilidade? Esse tema deverá dominar muitos
debates educativos nas próximas décadas. O que estamos estudando nas escolas?
Não estaremos construindo uma ciência e uma cultura que servem para a
degradação e para a deterioração do planeta?
4ª) VIRTUALIDADE. Esse
tema implica toda a discussão atual sobre a educação a distância e o uso dos
computadores nas escolas. Quais as conseqüências para a educação, para a
escola, para a formação do professor e para a aprendizagem? Como fica a escola
diante da pluralidade dos meios de comunicação? Eles nos abrem os novos espaços
da formação ou irão substituir a escola?
5ª) GLOBALIZAÇÃO. O processo da globalização está mudando não só a
política, a economia, a cultura, como também a educação. O estudo desta
categoria nos remete à necessária discussão do papel dos municípios e do
“regime de colaboração” entre união, estados, municípios e comunidade, nas
perspectivas atuais da Educação Básica. Para pensar a educação do futuro,
precisamos refletir sobre o processo de globalização da economia, da cultura e
das comunicações.
6ª) TRANSDICIPLINARIDADE. Embora com significados distintos,
certas categorias como transculturalidade, transversalidade, multiculturalidade
e outras como complexidade e holismo também indicam uma nova tendência na
educação que será preciso analisar. Como construir interdisciplinarmente o
projeto pedagógico da escola? É necessário realizar o debate dos parâmetros
curriculares. O desafio de uma educação sem discriminação étnica, cultural, de
gênero.
7ª) DIALOGICIDADE, DIALETICIDADE. Não podemos negar a atualidade de
certas categorias freireanas e marxistas, isto é, a validade de uma pedagogia
dialógica ou da práxis. A fenomenologia hegeliana continua inspirando nossa
educação e deverá atravessar o milênio. A educação popular e a pedagogia da
práxis deverão continuar como paradigmas válidos para além do século XXI.
12 - [DIALÉTICA AINDA É PARADIGMA MAIS CONSISTENTE PARA ANALISAR
FENÔMENO DA EDUCAÇÃO]
Com diversos
desafios para a educação, nos fica claro que a reflexão crítica não é
suficiente, como também não basta a prática sem a reflexão sobre ela. A análise
dessas categorias, a identificação da sua presença na pedagogia contemporânea,
pode constituir-se, sem dúvida, num grande programa a ser desenvolvido hoje em
torno das “perspectivas atuais da educação”. Com esse texto introdutório,
pretende-se iniciar um debate sobre as diversas perspectivas atuais da
educação, para uma análise em profundidade daqueles e daquelas que se
interessam por uma educação voltada para o futuro, uma educação apropriada para
o século XXI.
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